Faltando poucos dias para a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o governo federal intensificou os esforços diplomáticos para evitar os impactos econômicos da medida. A sobretaxa, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, está prevista para entrar em vigor nesta sexta-feira, 1º de agosto, e pode afetar diretamente cerca de 10 mil empresas exportadoras brasileiras.
Em nota divulgada na última semana, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reafirmou o compromisso do Brasil com o diálogo, destacando que as negociações com os Estados Unidos têm sido conduzidas “sem qualquer contaminação política ou ideológica”. O comunicado também ressalta que a soberania brasileira e o estado democrático de direito “são inegociáveis”, mas que o governo seguirá aberto a tratar de questões comerciais com transparência e disposição.
“O governo brasileiro espera preservar e fortalecer essa parceria histórica, assegurando que ela continue a refletir a profundidade e a importância de nossos laços”, acrescentou o MDIC, lembrando que Brasil e Estados Unidos mantêm uma relação econômica sólida há mais de dois séculos.
Desde o anúncio da medida tarifária, o governo brasileiro vem articulando possíveis respostas e alternativas. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desembarcou neste domingo (27) nos Estados Unidos para compromissos oficiais na ONU, mas sinalizou que poderá ir a Washington, caso haja interesse do governo americano em retomar o diálogo. Até o momento, essa sinalização ainda não foi formalizada.
O próprio presidente norte-americano justificou a aplicação das novas tarifas com base em “relações comerciais desequilibradas”. Em pronunciamento no dia 23, Trump afirmou que a medida se destina a pressionar países que, segundo ele, não têm mantido um bom relacionamento com os Estados Unidos — entre eles, o Brasil, ainda que não citado nominalmente.
Na carta enviada no dia 9 de julho ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump anunciou oficialmente sua decisão. Já no domingo (27), o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, reforçou que não haverá prorrogações: a nova política tarifária começará a valer em 1º de agosto.
Diante do cenário, o governo brasileiro também busca apoio no setor privado. O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, lembrou que várias empresas americanas com longa atuação no Brasil também podem ser prejudicadas pela medida. “Tem empresa brasileira que tem fábrica nos Estados Unidos, e empresas americanas com décadas de presença aqui também seriam impactadas. Nós queremos todos unidos para resolver essa questão”, afirmou, citando nomes como General Motors, Johnson & Johnson e Caterpillar.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que a equipe econômica prepara um plano de contingência para amparar os setores mais atingidos pela tarifa. “Não vamos deixar ao desalento os trabalhadores brasileiros. Vamos tomar as medidas necessárias”, declarou.
De acordo com estimativas da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), a tarifa pode prejudicar diretamente empresas que, juntas, empregam cerca de 3,2 milhões de brasileiros. A expectativa do governo brasileiro é de que o canal de diálogo com os EUA ainda possa ser restabelecido, a fim de evitar um impacto econômico de grande escala nos dois países.