‘O Brasil empurrou a gente para o Paraguai’, diz CEO da Lupo
A empresa inaugurou uma fábrica no país vizinho em junho, diante da alta carga tributária brasileira.
A fabricante de meias Lupo, tradicional empresa de Araraquara (SP), decidiu expandir sua operação para o Paraguai diante dos impactos da nova legislação sobre incentivos fiscais. Em junho, a companhia inaugurou sua fábrica em Ciudad del Este.
“Não é que a Lupo foi para o Paraguai, o Brasil empurrou a gente para o Paraguai”, afirmou a CEO Liliana Aufiero em entrevista à Folha de S.Paulo. A decisão ocorreu após a sanção da Lei nº 14.789/2023, que alterou as regras de tributação de incentivos relacionados ao ICMS, aumentando custos e reduzindo margens da empresa.
Liliana explica que o peso tributário tornou inviável manter toda a produção no Brasil. Segundo ela, a operação no Paraguai tem custo pelo menos 28% menor. “Os impostos estão comendo a operação de forma violenta”, disse.
Com investimento de R$ 30 milhões, a fábrica paraguaia tem capacidade para produzir 20 milhões de pares de meias por ano e já gera cerca de 110 empregos. Além do fator fiscal, a Lupo também buscou competitividade frente à presença de uma grande fábrica administrada por um empresário chinês em território paraguaio.
A CEO afirma que a concorrência internacional exige condições semelhantes. “Se ele consegue vender no Brasil sem investir em marca, oferecendo um bom produto a um custo menor, eu preciso ter as mesmas vantagens”, disse à Folha.
A Lupo lidera a venda de meias e cuecas no país e atua também com lingerie, pijamas e meia-calça por meio das marcas Lupo, Trifil e Scala. A empresa cresceu com aquisições: comprou o grupo Scalina em 2016, expandindo presença no Nordeste; fechou a fábrica de Guarulhos (SP), centralizando produção em Itabuna (BA); e, entre 2022 e 2023, incorporou unidades da Marisol e da malharia Cotece, no Ceará.
Formada em engenharia civil, Liliana assumiu a direção comercial em 1986. O fundador Henrique Lupo, seu avô, havia proibido a participação da terceira geração na empresa, temendo conflitos — que mesmo assim aconteceram, envolvendo disputas entre herdeiros por informações societárias e contratos.
Liliana já escolheu seu sucessor: Carlos Alberto Mazzeu, vice-presidente. Mas garante que não pretende deixar o comando: “Se eu me aposentar, será o dia da minha morte”.


