Em meio à dor devastadora pela morte da mãe, Thaysa Orue dos Santos, de 29 anos, encontrou forças para perdoar o irmão, Alfredo Henrique Oruê dos Santos, de 21, acusado de matar a própria mãe, Michelly Rios Midon Oruê, com cinco golpes de faca. O crime chocou a cidade de Glória de Dourados (MS) na noite da última quinta-feira (3), após uma discussão em que a mãe tentou impedir o filho de sair para comprar drogas.
Thaysa gravou um vídeo comovente pedindo respeito diante da tragédia familiar. “Deitei na cama da minha mãe e senti como se ela dissesse: ‘perdoa seu irmão’”, relatou com a voz embargada. Ela disse que, inicialmente, foi dominada pela raiva, mas ao chegar na casa da família, onde o crime ocorreu, e deitar na cama da mãe, foi tomada por um sentimento inesperado. “Meu coração se acalmou na hora. Me veio uma vontade de encontrar meu irmão para protegê-lo dele mesmo.”
Segundo a jovem, Alfredo sofria com dependência química e depressão, e tinha laudos que atestavam problemas psiquiátricos. “Quando ficava sem a droga, ele tinha surtos. Mas longe disso, ele era carinhoso, amoroso. Sempre me enchia de abraços”, lembra. Thaysa também afirma que não havia histórico de violência entre mãe e filho. “Eles não brigavam. Todo mundo está criando uma versão que não existia. A gente ainda não sabe o que aconteceu, mas provavelmente foi um surto. Ele já estava há três noites usando cocaína.”
O crime ocorreu quando Michelly tentou impedir o filho de sair para comprar entorpecentes. Alfredo desferiu cinco facadas na mãe — uma delas atingindo a jugular — e fugiu com o carro da família. Ele foi preso na manhã seguinte, dormindo em uma boca de fumo no bairro Jóquei Clube, em Dourados, a cerca de 80 km de onde ocorreu o assassinato. Ao ser levado para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), confessou o crime diante da imprensa.
Michelly foi encontrada caída no quintal da casa por amigos e familiares, que estranharam seu sumiço e foram até o local. O marido dela estava fora da cidade a trabalho. A Polícia Civil destacou que Alfredo se aproveitou da ausência do pai para cometer o crime.
Natural de Corumbá, Michelly havia se mudado para Sidrolândia com a família, mas trocou de cidade novamente em busca de melhor atendimento médico para o filho. “Ela mudou por conta dele. Em Sidrolândia, ele tentou tirar a própria vida e ficou 15 dias internado. Ela lutou muito por ele”, contou a irmã da vítima, Adriana Oruê. “Era alegre, acolhedora e fazia de tudo pela família. Sempre disposta a ajudar.”
O último contato entre as irmãs foi dois dias antes do crime. “Ela disse que estava tudo bem, que ia levá-lo ao médico. Não sei se ele tinha voltado a usar droga…”, lamentou Adriana.
Thaysa encerra seu desabafo deixando claro que enxerga a droga como a verdadeira culpada pela tragédia. “A droga acabou com a minha família. Acabou com a vida da minha mãe. Não foi meu irmão, foi a droga. E eu perdoei meu irmão porque minha mãe perdoaria.”
