A menos de três meses da COP30, que será realizada em novembro em Belém, a cidade ainda enfrenta problemas graves de hospedagem. A disparada nos preços e a falta de vagas acessíveis têm preocupado organizadores e delegações internacionais.
O caso mais emblemático é o do antigo Hotel Nota 10, que mudou de nome para Hotel COP30 e aumentou sua diária de R$ 70 para até R$ 6 mil. Mesmo com a especulação, o estabelecimento não fechou reservas até agora, apesar de ter tentado negociar o aluguel do prédio inteiro para delegações estrangeiras.
O evento deve reunir cerca de 50 mil pessoas ao longo de 12 dias e já expôs a fragilidade da infraestrutura hoteleira da capital paraense. Para reduzir os impactos, o governo federal antecipou a cúpula de chefes de Estado para os dias 6 e 7 de novembro, mas a medida não conteve a escalada dos preços.
Segundo Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a situação é inédita:
“Isso nunca aconteceu, normalmente dois ou três meses antes da conferência todos os países já têm acomodação”, disse à AFP.
Até agora, apenas 68 dos 198 países participantes confirmaram hospedagem. A ONU chegou a solicitar subsídios ao Brasil para aliviar os custos, mas o pedido não foi atendido.
O gerente do Hotel COP30, Alcides Moura, classificou os preços abusivos como um “teste de mercado”, mas reconheceu que houve exageros:
“É um evento de uma magnitude que Belém nunca esperou, e os valores acabaram ficando desordenados, cada um colocou seus valores e alguns fora da realidade.”
Atualmente, o hotel reduziu as tarifas para até US$ 350 (cerca de R$ 2 mil) por diária, mas ainda enfrenta resistência.
Medidas emergenciais
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou que a “oferta de leitos está garantida”, mas admitiu a necessidade de conter abusos. Como alternativa, o governo contratou dois navios privados com 6 mil camas, que ficarão a 20 km do evento.
O Airbnb informou queda de 20% no preço médio desde fevereiro, mas diárias próximas a US$ 100 — padrão sugerido pela ONU — ainda são raras nas principais plataformas. A expectativa é que 60% dos visitantes fiquem em imóveis particulares, já que hotéis dizem estar quase lotados.
Toni Santiago, presidente da associação de hotéis do Pará, rejeitou qualquer possibilidade de tabelamento:
“Isso não existe em nenhum grande evento no mundo. Por que Belém tem que ser a vira-lata da história?”
