O empresário René da Silva Nogueira Junior, preso por suspeita de assassinar o gari Laudemir de Souza Fernandes durante uma discussão de trânsito no bairro Vista Alegre, em Belo Horizonte (MG), relatou ter passado por uma “situação constrangedora” na prisão.
Durante audiência de custódia, ele contou ao juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno que, no **Centro de Remanejamento (Ceresp) Gameleira, uma pessoa pediu que ele agachasse três vezes ao sair da cela e, na presença de agentes, ouviu provocações como: *“Tu matou o gari por quê? Você fez isso, covarde”.
René disse que respondeu afirmando existir uma investigação em andamento e declarou que pretende reportar o episódio ao “Greco” — em referência ao secretário de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, Rogério Greco. Segundo ele, também foi fotografado sob custódia e dormiu no chão.
O juiz determinou que René receba colchão e atendimento médico para uso de medicação controlada, além de proibir fotografias dentro da unidade prisional.
O magistrado negou o pedido da defesa para sigilo dos autos, reforçando que a publicidade processual é a regra no Brasil e que o caso não apresenta requisitos legais para sigilo.
Na decisão, Damasceno afirmou haver “diversos elementos que fundamentam a legalidade do flagrante”, incluindo:
* Perseguição ininterrupta da PM após o crime;
* Uso de câmeras de segurança;
* Oitiva de testemunhas;
* Levantamento da placa do carro usado na fuga;
* Localização do suspeito em posse do veículo;
* Reconhecimento fotográfico imediato por testemunhas.
O juiz destacou que o suspeito foi encontrado logo após o crime, em circunstâncias que indicavam ser o autor do disparo.
O Ministério Público pediu a prisão preventiva, que foi acatada pelo juiz, para **garantia da ordem pública**.
Segundo a polícia:
* O crime ocorreu por motivo fútil — irritação com breve interrupção no trânsito causada por um caminhão de lixo;
* René teria ameaçado a motorista do caminhão dizendo que iria “atirar na cara dela” caso não desse passagem;
* Após passar pelo caminhão, ele freou bruscamente, retornou, manuseou a arma (o carregador caiu e foi recolocado) e atirou contra Laudemir;
* O disparo atingiu o peito do gari, que foi levado ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas morreu;
* O autor **deixou o local caminhando tranquilamente** e seguiu seu dia normalmente, indo passear com os cachorros e depois à academia, onde foi preso.
No local do crime, a PM encontrou uma munição intacta e uma deflagrada, ambas calibre .380.
René admitiu que sua esposa, a delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, possui uma pistola desse calibre, apreendida na casa do casal para perícia.
A defesa pediu o relaxamento da prisão, alegando que o acusado é réu primário, tem bons antecedentes e residência fixa.
René negou participação no crime durante a abordagem, mas admitiu ser casado com a delegada e saber da existência da arma.
As testemunhas — incluindo a motorista do caminhão — forneceram descrição física do suspeito (homem claro, alto e forte) e detalhes da placa do carro, permitindo à polícia identificá-lo. O veículo foi localizado na Avenida Raja Gabaglia, e a abordagem ocorreu no estacionamento de uma academia de alto padrão no bairro Estoril.
A delegada Ana Paula esteve no local da prisão, autorizou buscas no carro e negou saber do crime. A Corregedoria da Polícia Civil abriu Processo Administrativo Disciplinar** para investigar se René tinha acesso à arma dela e se ela tinha conhecimento do caso.