Produtores de arroz realizaram um protesto inusitado na última quinta-feira (16) em Querência do Norte (PR), despejando sacas de arroz em frente a uma agência do Banco do Brasil. O ato, segundo os organizadores, simboliza o desespero dos pequenos e médios agricultores diante da queda drástica no preço do grão e do aumento dos custos de produção.
Os manifestantes escolheram o Banco do Brasil por representar o principal agente de crédito do agronegócio, mas afirmam que a instituição tem dificultado o acesso a empréstimos e renegociações de dívidas. “Não compensa mais plantar arroz. Pela primeira vez, esse produto da cesta básica dá prejuízo”, desabafou um dos produtores.
A crise não é exclusiva do Brasil. Em 2025, o preço internacional do arroz atingiu o menor patamar desde 2020, puxado por estoques elevados na Ásia, redução da demanda global e queda nos custos de frete marítimo. Grandes exportadores, como Índia, Tailândia e Vietnã, ampliaram a oferta após boas safras, provocando uma superprodução mundial. O resultado foi um excesso de arroz no mercado e preços até 30% mais baixos que no ano anterior.
No Brasil, o impacto é duplo: além da concorrência externa, o custo interno de produção — que envolve combustível, fertilizantes e transporte — segue alto. A desvalorização do grão no mercado doméstico tem levado produtores a vender abaixo do custo, especialmente nas regiões Sul e Centro-Oeste.
Em resposta às reclamações, o Ministério da Agricultura destacou que pequenos e médios produtores têm acesso a programas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e o Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural), que oferecem empréstimos com juros subsidiados e linhas de crédito para custeio e investimento.
O governo também anunciou medidas para ampliar prazos de pagamento de dívidas e subsidiar parte dos custos com armazenagem e transporte, mas os agricultores afirmam que a burocracia e a demora na liberação dos recursos inviabilizam o socorro.
Enquanto isso, o arroz, símbolo da mesa do brasileiro, se transforma em bandeira de protesto. “A gente planta com fé, trabalha duro e acaba jogando o produto fora. É um grito de socorro”, resumiu um agricultor durante o ato.