A pouco mais de três meses da COP30, cresce a pressão de países estrangeiros para que o evento seja transferido de Belém (PA) para outra cidade. O motivo: os preços considerados abusivos das hospedagens na capital paraense, com diárias chegando a ultrapassar R$ 10 mil — até 15 vezes acima do valor normal.
Nesta semana, o problema ganhou novos desdobramentos. O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, anunciou que não participará da conferência, alegando restrições orçamentárias e dificuldades logísticas causadas pelos altos custos de participação em Belém. Ele será substituído pelo ministro do Meio Ambiente austríaco, Norbert Totschnig.
Segundo o governo austríaco, os gastos com hospedagem e deslocamento inviabilizaram a presença do chefe de Estado. E não se trata de um caso isolado: ao menos 25 países já enviaram comunicações formais ao governo brasileiro desde janeiro, questionando os valores das diárias na rede hoteleira local.
A pressão internacional chegou a provocar, na última terça-feira (29/7), uma reunião de emergência organizada pela ONU, com presença de representantes da Convenção do Clima (UNFCCC), do governo brasileiro e do governo do Pará. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou publicamente que existe uma “sensação de revolta” entre países — principalmente os mais pobres — diante dos valores cobrados.
“Em outras cidades que receberam a COP, os hotéis subiram o preço para o dobro ou o triplo. Em Belém, estão cobrando até 10 ou 15 vezes mais. Muitos países em desenvolvimento dizem que não poderão participar”, declarou Corrêa do Lago durante evento com a Associação de Correspondentes Estrangeiros.
Países como Alemanha, Suíça, China, Indonésia, Holanda e Polônia já sinalizaram que precisarão reduzir o número de representantes ou poderão abrir mão da participação caso o cenário não mude. Segundo a Folha de S.Paulo, 25 negociadores internacionais assinaram um documento sugerindo a realocação parcial ou total da conferência, caso os preços não sejam controlados.
Ainda assim, a Secretaria Extraordinária da COP30 (Secop) reforçou que não há possibilidade de mudança de cidade e que está trabalhando para garantir acomodações mais acessíveis. A organização já anunciou medidas como:
Contratação de dois navios de cruzeiro para fornecer 6 mil leitos extras;
Abertura de reserva de hospedagens para delegações de países em desenvolvimento, com diárias limitadas a US$ 220 (cerca de R$ 1.200);
Plano de acomodação por fases, priorizando os negociadores oficiais.
Apesar dos esforços, a insatisfação se mantém. A próxima reunião com os organizadores da COP e países participantes foi marcada para 11 de agosto, com o objetivo de tentar avançar em uma solução. A COP30 será realizada entre os dias 10 e 21 de novembro, reunindo cerca de 45 mil pessoas de mais de 190 países. Belém, hoje, conta com cerca de 18 mil leitos hoteleiros.