A situação do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) ganhou um novo capítulo após a revelação de que ele apresentou à Câmara dos Deputados notas de combustível emitidas no Rio de Janeiro enquanto, segundo investigação da Polícia Federal, já estava fora do país. Os registros mostram que os abastecimentos aconteceram nos mesmos horários em que Ramagem votava remotamente em sessões do Congresso, o que sugere o uso da verba parlamentar por terceiros — algo proibido pelo regimento da Casa.
A Câmara permite reembolso apenas quando o combustível é utilizado pelo próprio parlamentar. Ainda assim, desde setembro, período em que a PF afirma que Ramagem já havia deixado o Brasil, ele pediu reembolso de R$ 4,7 mil referentes a abastecimentos no Rio. As notas aparecem no sistema oficial até o início de novembro.
Um dos casos ocorreu no dia 16 de setembro, durante a votação da PEC da Blindagem. Enquanto Ramagem votava de forma remota entre 16h e 18h, uma nota fiscal registrada às 17h mostra um abastecimento em seu nome em um posto na Barra da Tijuca. A votação, inclusive, rendeu declarações posteriores do deputado, já no exterior, admitindo que o texto poderia proteger parlamentares.
Outros registros semelhantes apareceram em outubro. Em 14 de outubro, enquanto o deputado votava uma emenda sobre políticas para a primeira infância, a Câmara recebeu nota de abastecimento emitida minutos antes no Recreio dos Bandeirantes. No dia 22, a situação se repetiu: Ramagem votava a criação da chamada “bancada cristã” enquanto a nota de gasolina era emitida na Barra da Tijuca.
Especialistas afirmam que, diante de indícios de que o combustível foi usado por terceiros, a Câmara pode negar o reembolso ou exigir devolução do valor. Em casos mais graves, o episódio pode ser analisado pela Corregedoria e pelo Conselho de Ética.
A inconsistência entre os registros de presença digital e as despesas no Brasil se soma ao fato de que Ramagem não comunicou à Mesa Diretora sua saída do país, embora tenha apresentado atestados médicos a partir de 9 de setembro. Nesta semana, o ministro Alexandre de Moraes determinou a perda de seu mandato após o trânsito em julgado de sua condenação na trama golpista.
Procurado, o gabinete de Ramagem não respondeu aos questionamentos.


