Um dos setores mais afetados pela tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, às exportações brasileiras é o agronegócio, que calcula uma perda de US$ 5,8 bilhões em negócios com o mercado norte-americano. O valor representa quase metade dos US$ 12,1 bilhões movimentados em 2024 com o envio de produtos do agro brasileiro aos EUA.
A estimativa foi feita pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O levantamento aponta que, em algumas cadeias produtivas, a nova sobretaxa pode zerar completamente o fluxo comercial com os Estados Unidos. É o caso, por exemplo, do suco de laranja. Em 2024, os EUA importaram US$ 795 milhões do produto brasileiro, mas a tarifa de 50% tornaria a exportação inviável.
Outro setor que pode sofrer um impacto total é o da venda de açúcares. No ano passado, o Brasil faturou US$ 149 milhões com as exportações do produto para os Estados Unidos — valor que seria zerado com a nova tarifa. “Alguns produtos sofrerão mais impacto que outros, caso dos sucos de laranja, em que a tarifa se tornaria impeditiva para o produto brasileiro”, afirmou a CNA em nota.
A carne bovina, cujo segundo maior comprador é o mercado norte-americano, pode ter uma queda de 33% na receita, passando de US$ 1,91 bilhão para US$ 1,27 bilhão. Já produtos como o café verde devem sofrer menos, segundo a entidade, devido à escassez global do grão, que reduz a possibilidade de substituição por fornecedores de outros países.
A CNA explicou que os cálculos foram baseados na elasticidade das importações, isto é, na variação da demanda em resposta ao aumento de preços. “Assumiu-se que o choque causado nas tarifas seria integralmente transmitido para os preços de importação. Ou seja, uma elevação de 50% nas tarifas elevaria em 50% os preços finais”, detalhou a entidade, com base em dados dos últimos cinco anos do comércio entre os EUA e o Brasil.
Desde o anúncio da medida, feito por Trump em 9 de julho, as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos entraram em rota de colisão. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Casa Branca informou que a tarifa de 50%, válida a partir de 1º de agosto, está relacionada ao processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Trump chegou a afirmar que a relação entre os dois países é “prejudicial” aos Estados Unidos. No entanto, os dados comerciais mostram o contrário: em 2024, o Brasil exportou R$ 40,3 bilhões aos EUA, enquanto importou R$ 40,6 bilhões, resultando em um déficit de US$ 253 milhões para o Brasil.
Como resposta, o governo brasileiro lançou a campanha “O Brasil é dos brasileiros”, em defesa da soberania nacional. Um comitê liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, com integrantes do Executivo e empresários, está tentando negociar com a Casa Branca a suspensão da tarifa.
Ontem, quarta-feira (23), o Brasil levou o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), onde o Ministério das Relações Exteriores classificou a medida como “arbitrária” e criticou a forma como foi implementada pelos EUA.
